Educação

Desafio Pré-Universitário Popular: Há 30 anos, curso preza por universidade mais plural

Projeto de extensão da UFPel busca auxiliar no acesso ao ensino superior às camadas mais pobres da sociedade

Foto: Carlos Queiroz - DP - Atividades são voltadas à preparação de alunos, em especial os mais pobres, para o acesso à universidade

Por João Pedro Goulart
[email protected]
(Estagiário sob supervisão de Lucas Kurz)

Em meados de 1993, um grupo de alunos da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), na sala de TV da Casa do Estudante, discutia a criação de um curso gratuito de preparação de estudantes carentes para ingressarem na faculdade. Nascia ali o Desafio Pré-Universitário Popular. A nomenclatura remete à realidade, porque ser pioneiro na democratização do acesso à universidade é desafiador. É o que conta Celina Rinaldi, à época estudante de Direito, que integrou o grupo de amigos universitários fundadores do curso. “O Desafio veio antes das cotas para alunos de baixa renda, escolas públicas, deficientes, negros e pardos. O Desafio foi precursor na luta por tornar a universidade pública mais plural, com acesso de negros, pardos, pobres, trabalhadores”, lembrou Celina. Em 1997, o Desafio foi reconhecido como projeto de extensão da UFPel e com o tempo tornou-se uma referência no meio popular em Pelotas, devido à alta aprovação dos seus alunos. Passadas três décadas, o projeto continua proporcionando a uma parcela expressiva da sociedade o acesso à universidade pública, beneficiando cerca de 300 estudantes anualmente.

Leonardo de Andrade, 26 anos, é professor de redação no projeto desde 2018. No ano seguinte, se tornou coordenador pedagógico e auxiliou também no processo de aprendizagem dos alunos e planejamento de aulas. Ele relata que o Desafio tem dois pilares dentro da proposta freiriana, que ele nomeia por bandeira e colateral. “A bandeira levantada era de ter uma universidade pública, gratuita e laica para todas as pessoas e inserir a camada trabalhadora de vulnerabilidade social na universidade [...] e o efeito colateral é que o Desafio se tornou também um projeto de formação de professores”, explicou. O professor explica que no começo do projeto o corpo docente não era formado por professores, havendo o ingresso de alunos da licenciatura algum tempo depois, ao passo que o Desafio progredia, transformando-se, então, em projeto de extensão da universidade. “O Desafio conseguiu fazer a relação freiriana de práxis, ou seja, vincular teoria e prática”.

Relação esta que Patrícia Reis, 52 anos, vivenciou integralmente. Ela diz ter sido matriculada na primeira turma do cursinho, em 93. Aprovada em Língua e Literatura Espanhola, ajudou na docência das aulas de espanhol no que já era tratado como projeto de extensão da universidade. “Naquela época não havia cotas. Quem era pobre não tinha acesso a um cursinho pré-vestibular para entrar na faculdade. Eu notei que o Desafio colocou muita gente pobre, negra, na universidade. [...] E para nós, antes alunos, e depois professores, era uma maneira de praticar o conhecimento que estávamos aprendendo e reverter para a sociedade aquilo que a UFPel nos oferecia”, aponta a professora.

A institucionalização do Desafio enquanto projeto da UFPel foi uma amostra de que a iniciativa iria perdurar por mais tempo, ainda que na ausência de seus criadores como comandantes do curso. Então, a universidade entrou com espaço físico para as aulas e recursos financeiros - mesmo que limitados -, o que fez com o que o projeto sobrevivesse até hoje. Além disso, o Desafio tem a característica de ser cíclico, fazendo com que as gestões nunca sejam as mesmas, com exceção da coordenação-geral da UFPel. À medida que alteram-se os bolsistas do projeto, mudam as ideias, com adição de novas pessoas comprometidas a manter e seguir ele adiante.

Na prática

No momento, um dos beneficiados pelo projeto é Miguel Vieira, 17 anos. Ele pretende entrar para um curso relacionado à área da saúde e está conseguindo estudar graças ao curso pré-universitário. “Para mim, o Desafio significa muito. É graças a ele que estou conseguindo estudar, por ser um curso gratuito. Os professores dão aula para nós voluntariamente e são professores maravilhosos, com uma dinâmica muito legal, um jeito de ensinar muito bom, e dão muita liberdade para a gente interagir”, afirmou o estudante.

A idealizadora se emociona com o fato de sua iniciativa continuar ativa até hoje e ser tão eficiente. Para Celina, “o que mais impressiona é que o Desafio é feito por estudantes e como sabemos, os estudantes ficam um período na universidade, se formam e vão embora. Tem uma rotatividade de pessoas. Uma impermanência. Contudo, há 30 anos, o Desafio resiste.” Eis, então, o próximo desafio, manter o projeto vivo.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Ajustes dos preços dos combustíveis nas refinarias já são visíveis nas bombas Anterior

Ajustes dos preços dos combustíveis nas refinarias já são visíveis nas bombas

Moradores reclamam de falta de fiscalização da Lei do Sossego Próximo

Moradores reclamam de falta de fiscalização da Lei do Sossego

Deixe seu comentário